Aceleração da inflação pressiona BCE

Inflação da zona do euro acelerou ainda mais em Janeiro

De acordo com a estimativa preliminar do Eurostat, a taxa de inflação da zona do euro acelerou ainda mais em Janeiro, atingindo os 5,1%, depois de 5% em Dezembro. Era esperada uma desaceleração, com a sondagem Reuters a indicar uma taxa de 4,4%, principalmente devido ao fim do impacto da taxa do IVA na Alemanha.

A inflação na Alemanha desacelerou de 5,7% em Dezembro para 5,1%, e de forma similar Espanha viu a taxa reduzir 0,5 pontos percentuais para 6,1%. Estas reduções foram compensadas por aumentos mais rápidos, de mais de 1 ponto percentual, registados na Lituânia (onde a inflação atingiu 12,2%), Bélgica e Eslováquia (ambos 8,5%), Holanda (7,6%), Grécia (5,5%) e Itália ( 5,3%).

O valor da inflação na zona do euro foi empurrado principalmente pela aceleração dos preços da energia, que subiram quase 29% em relação ao ano anterior, depois de um aumento de 26% no mês anterior, impulsionado principalmente pelo forte aumento dos preços do petróleo, próximo dos máximos de sete anos, devido a preocupações com a possível invasão russa na Ucrânia. Também o ritmo de crescimento dos preços dos produtos alimentares subiu 0,4 pontos percentuais para 3,6%. Entretanto a inflação subjacente por exemplo a bens de consumo e serviços, excluindo energia e alimentos, desacelerou ligeiramente de 2,6% em Dezembro para 2,3%, mas acima das expectativas.

O facto de a inflação ter subido em Janeiro em vez de desacelerar, como era esperado pelo Banco Central Europeu, está a pressionar o BCE a começar a combater proativamente a inflação, em vez de esperar que ela esfrie por si própria. Na quinta-feira, o banco decidiu manter a orientação, conforme decidido na sua reunião de Dezembro. Embora fosse improvável que o banco fizesse qualquer alteração na política monetária apenas um dia após a divulgação dos números da inflação de Janeiro, a presidente Lagarde abordou os números mais recentes durante a conferência de imprensa, destacando as suas preocupações de como o aumento dos preços está a afectar especialmente as famílias mais vulneráveis. Mencionou que os riscos de inflação estão em alta, comparativamente com as projecções de Dezembro e provavelmente crescerão por mais tempo do que o esperado, mas ainda devendo diminuir este ano.

Quando questionada sobre a trajectória das taxas de juros, Lagarde apontou a reunião de política monetária a realizar em Março como o momento em que serão tomadas as principais decisões, pois nessa altura as novas projecções macroeconómicas já estarão disponíveis. Lagarde, não repetiu que era “altamente improvável” que as taxas fossem aumentadas este ano, indicando que o aumento das taxas não está completamente fora da mesa, se a inflação acelerar ainda mais. No entanto, ela repetiu que primeiro se devem concluir as compras de activos líquidos antes que as taxas possam ser aumentadas.

O banco está numa situação difícil porque que por um lado, preocupa-o que o endurecimento da política monetária possa travar o já frágil crescimento económico, mas, por outro lado, o banco está a começar a perder credibilidade à medida que a inflação continua a subir. Especialmente considerando que os seus pares estão a adoptar uma postura visivelmente agressiva, ou seja, o Banco da Inglaterra já subiu as taxas em Dezembro e entregou outro aumento de 0,25 hoje, enquanto o Fed americano provavelmente iniciará a subir as taxas em Março. A falta de acção por parte do Banco Central Europeu pode resultar no desancorar das expectativas de inflação na Europa, dada a preocupação dos consumidores com o aumento contínuo e acelerado dos preços. Já antes de os números do IPC de Janeiro estarem disponíveis, a previsão do BCE de que a inflação da zona do euro cairia para menos de 2% até o final deste ano, foi amplamente questionada por especialistas.

O forte aumento dos preços no consumidor, especialmente em alguns países europeus, está a pressionar os orçamentos das famílias e das PMEs. Uma nota positiva, a onda de incumprimento e insolvências, que era esperada no ano passado, quando grande parte do apoio dos governos terminou, não se concretizou. 

Globalmente, o número de falências é inferior ao verificado em período pré-pandemia, mas tal não é verdade para todos os sectores, em particular para alojamento e restauração os números têm sido visivelmente superiores. Da mesma forma, a taxa de incumprimento para este sector no 3º trimestre de 2021 foi 1,5 ponto percentual acima do registado no 4º trimestre de 2019. 

aumento acentuado e contínuo dos preços pode aumentar este número este ano, já que famílias e empresas, enfrentando contas mais altas, provavelmente terão dificuldade em cumprir as suas obrigações financeiras, particularmente para os sectores mais prejudicados pela pandemia e onde houve pouca ou nenhuma acumulação de poupança nos últimos dois anos, o que poderia dar algum tipo de protecção contra o forte aumento da inflação.

Anna Zabrodzka
Economista Sénior Intrum