Síndrome "Não faças o que eu faço"
Apesar de em 2021 terem sido apoiadas por medidas de emergência como resposta ao confinamento, as empresas têm estado a pagar aos seus fornecedores cada vez mais tarde.
34% das empresas portuguesas admite pagar mais tarde aos seus fornecedores - atitude esta - que não aceitaria dos seus próprios clientes
- 80% dos inquiridos afirma que nos últimos 12 meses lhes foi pedido para aceitarem prazos de pagamento mais longos do que consideram razoável;
- Quase metade dos inquiridos (42%) afirma que as condições de pagamento que oferecem, na realidade, os está a prejudicar enquanto empresa;
No mais recente EPR – European Payment Report 2023, estudo da Intrum, verificou-se um aumento notável na proporção de empresas portuguesas que afirma estar a pagar aos seus fornecedores mais tarde do que aceitaria dos seus próprios clientes – aumentando de 23% para 34% em apenas um ano. Quando comparado com outros países, no Reino Unido, por exemplo, este número atinge os 54%, uma percentagem elevada em comparação tanto com Portugal (34%), como com países europeus vizinhos, nomeadamente França (36%), Alemanha (36%) e Espanha (33%). A média europeia situa-se nos 37%.
Apesar de em 2021 terem sido apoiadas por medidas de emergência como resposta ao confinamento, as empresas têm estado a pagar aos seus fornecedores cada vez mais tarde. Em Portugal, o atraso de pagamento (o tempo entre os termos acordados e o pagamento efetivo), aumentou em relação ao ano anterior, em dois, um e sete dias respetivamente para: consumidores (10 dias), empresas (15 dias) e o setor público (17 dias).
Quando questionadas, 80% das empresas portuguesas admite que nos últimos 12 meses, lhes foi pedido para aceitarem prazos de pagamento mais longos do que consideram razoável. De acordo com o estudo, quase metade (42%) refere ainda que as condições de pagamento que oferecem, na realidade os está a prejudicar enquanto empresa. Na Europa, a média é de 46%.
Aceitar pagamentos em atraso para preservar boas relações com os clientes
De acordo com o estudo da Intrum, 53% dos inquiridos portugueses (valor igual à média europeia) reconheceu já ter aceitado prazos de pagamento mais longos do que considera razoável para não prejudicar a sua relação com os clientes. Esta atitude é mais comum nas grandes empresas (63%) do que nas PMEs (49%).
Para evitar o risco de falência dos seus clientes, 48% dos participantes portugueses aceitaram prazos de pagamento mais longos do que se sentiam confortáveis. Este valor é também significativo quando analisamos a dimensão das empresas – com cerca de 49% das PMEs a concordar com a afirmação em comparação com 44% das grandes empresas.
De acordo com Luis Salvaterra, Diretor-Geral da Intrum Portugal, “a inflação e as altas taxas de juros dificultam, mais do que nunca, que as empresas façam os pagamentos entre elas a tempo. Isto cria um problema que se dissemina pelas cadeias de fornecimento e as empresas sentem que não têm escolha a não ser pedir mais tempo para pagar e aceitar condições de pagamento que prejudicam os seus negócios”.
E o futuro?
Em Portugal, quase seis em dez empresas preveem que os atrasos de pagamento aumentem nos próximos 12 meses, já que os seus clientes lutam para cumprir com as suas obrigações no atual ambiente económico.
De acordo com a Intrum, 47% dos portugueses afirma que gostaria de pagar aos seus fornecedores mais rapidamente, mas tal não é viável para a sua empresa atualmente.
Controlar e gerir pagamentos atrasados é um processo que consome muito tempo às empresas. Mais de metade dos entrevistados em Portugal (54%) afirma que é cada vez mais difícil acordar com os clientes, condições de pagamento que sejam mutuamente benéficas.
Parece haver pouco otimismo de que esta situação venha a mudar em breve, com 39% dos participantes a afirmar que é mais provável que a sua empresa solicite prazos de pagamento mais longos ou pague uma fatura com atraso, do que no ano passado.
O gráfico acima, retirado do estudo EPR, demonstra as principais consequências/impacto que os atrasos de pagamento de clientes têm nas empresas, destacando-se desde logo a obstrução ao crescimento da própria empresa (36%). As outras consequências com forte impacto nas empresas são: a perda de rendimento (30%), custos adicionais de financiamento (27%), problemas de liquidez (24%), falta de investimento na inovação (24%), a não contratação de novos funcionários (24%), a ameaça à sobrevivência da própria empresa (23%), o aumento do nível de stress/ansiedade entre os colaboradores (23%) e por fim, o despedimento dos funcionários (20%).
Empresas querem combater atrasos de pagamento, mas sentem-se limitadas
De acordo com a Intrum, 51% das empresas portuguesas inquiridas (valor igual à média europeia) gostaria de melhorar a gestão de pagamentos em atraso, mas consideram difícil, devido à falta de experiência e recursos internos. Verifica-se também que, mais de metade (55%) referiram que os seus sistemas financeiros e administrativos estão extremamente ultrapassados, impedindo-as de serem tão ágeis quanto necessitavam. Valor este superior à média europeia que se situa nos 47%.
A grande necessidade em atualizar urgentemente as plataformas tecnológicas das empresas de forma a ajudar a gerir a dívida de forma mais efetiva, é também uma necessidade mencionada por 46% das empresas portuguesas, mas não fazem pois estão relutantes em investir face ao atual ambiente de grande incerteza. O Reino Unido aparece no topo dos 29 países analisados com 54%, enquanto que a nível europeu, a média situa-se nos 44%.